Esta vida está ficando cada vez mais difícil quando o assunto é convivência. Até entre os religiosos encontramos grandes dificuldades em relacionar-se com o outro. Como estou envolvido diretamente com o ambiente religioso, percebo que há pessoas que, mesmo dentro dos templos de culto a Deus e comunhão entre os seus, desprezam os outros. Há pessoas que "cortam" caminho para não ter de cumprimentar determinadas pessoas. Há outras que, mesmo cumprimentando e até dando um sorriso simpático, demonstram uma acidez relacional impossível de ser mascarada. Enquanto instituição, vejo que muitas religiões pregam o amor ao próximo, porém, tal pregação é negada por tais religiões que, vendo a calamidade humana, ainda exploram seus fiéis. Algumas instituições, clamam em favor dos necessitados, dos "sem terras", dos moradores de rua; fazem campanhas em favor da reforma agrária, porém, detém grandes fortunas patrimoniais expressas em mega-templos suntuosos e terrenos espalhados em muitos países. Além do ambiente religioso e seus fiéis, está a sociedade comum, caracterizada pelo individualismo exposto por símbolos como, por exemplo, o fone de ouvido no qual a pessoa demonstra estar trancafiada em si mesma e, portanto, fechada para receber o que vem de fora. Os celulares também demonstram o nível do nosso individualismo, visto que, com a multifuncionalidade, os adolescentes, jovens e até adultos, seja no ônibus, no avião, ou andando pelas ruas, individualizam-se mesmo entre a multidão. Assim, com atitudes tão simples, boa parte das pessoas - religiosas ou não - está cada vez mais indiferente umas as outras. E esta indiferença está nos conduzindo a grandes conflitos: pessoais, familiares e sociais. Pessoais porque estamos tão individualizados que já nem nos incomodamos em ser tratados (e também tratar os outros) como objetos, em muitos casos, descartáveis; familiares porque internalizamos tanto o nosso mundo privativo que a casa onde vivemos se tornou mais utilitária do que relacional; e sociais no sentido de que nos envolvemos em causas às quais temos algum benefício, caso contrário, quando o outro luta pelos seus direitos, o condenamos por lutar por si mesmo. São basicamente essas situações que o autor de Provérbios denomina como pecado, visto que pecado, no sentido etmo-teológico, é errar o alvo. Relacionalmente falando, olhando para o nosso contexto, percebo que mudamos o alvo de lugar, ou seja, já não cuidamos mais uns dos outros, cuidamos - de maneira muito precária - apenas de nós mesmos. Porém, o autor de Provérbios aponta o caminho de uma existência mais significativa, ou seja, uma existência que existe para si mesmo, porém, por fazer sentido em si, tem como alvo o outro: amizade, afetividade, cuidado, proteção, conferência de dignidade, respeito, solidariedade, etc. E o autor de Provérbios não está usando de figura de linguagem, ao contrário, ele está falando de relacionamento real, de vida que se expressa de maneira saudável à medida que percebe o outro. Infelizmente, enquanto os seres humanos se esconderem atrás da religião, ou em seus equipamentos eletrônicos, ou no seu mundo individualizado, serão vítimas de si próprios e responsáveis pelo seu próprio abandono. Que tal refletirmos acerca da nossa postura enquanto ser social? Pense nisso!
Com carinho e amizade,
Pr. André Luís Pereira
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