O provérbio de hoje é libertador. Sim, é libertador no sentido de que nos devolve a realidade da imperfeição. Parece estranho falar sobre isso, não é mesmo? Mas, é uma verdade. Nós vivemos num tempo em que a busca pela perfeição tem nos tornado reclusos em nós mesmos, visto que as pessoas esperam de nós a perfeição. Ultimamente, já não se pode errar, não se pode esquecer, não se pode dizer: "não sei". E, particularmente, eu tenho percebido que essas cadeias já são postas em nós, logo na infância. Quando observo alguns pais se relacionando com seus filhos, principalmente perto de outras pessoas, a impressão que tenho é que, quando a criança faz algo errado ou vergonhoso, o que aliás é próprio em determinadas faixas etárias, os pais ficam envergonhados e corrigem a criança com muita veemência. Se a criança desobedece perto dos outros, os pais têm comportamentos ridículos: ou batem na criança ou gritam com ela. Quando na adolescência, o filho tem de ter as melhores notas na escola, não pode se rebelar em hipótese alguma, tem de se vestir "certinho" (segundo os padrões sociais aceitáveis), caso ele faça algo diferente disso, é reprimido, repreendido e, em alguns casos, levado até para a terapia. Sinceramente, penso que os pais que agem desta maneira são os deveriam ir buscar ajuda psicológica. Quando na juventude, o filho deve ter um bom emprego, estar numa boa faculdade, geralmente fazendo cursos que dão projeção social, como medicina ou engenharia, porém, se isso não acontece, logo, ainda que timidamente, começam a surgir nas conversas adjetivos como preguiçoso, folgado, etc. É claro que dentro de todo este contexto, está o desejo que os pais têm de ver os filhos muito bem, em todos os aspectos. Porém, quando este desejo torna-se um peso sob os ombros dos filhos. Tal comportamento tem de ser repensado e corrigido. Nós somos seres imperfeitos. Somada à imperfeição está o nosso temperamento e a nossa personalidade. E essas três realidades já são suficientes para que sejamos infinitamente diferentes uns dos outros, inclusive, diferente dos membros da nossa própria família. É necessário perguntarmos a nós mesmos: quando é que foi que nos ensinaram que todo mundo tem, necessariamente, de ser perfeito, ou seja, de saber tudo sobre todas as coisas, saber se comportar em todos os ambientes, ter todas as respostas as quais somos inquiridos? Quem foi que disse que errar, se equivocar, frustar as expectativas dos outros, são coisas às quais nós temos de nos envergonhar? Ora, todos nós estamos à mercê da vida, e para que possamos vivê-la de maneira intensa não precisamos ser perfeitos, apenas precisamos ser nós mesmos, conscientes de nossas habilidades e debilidades. É importante que aprendamos a focar nas habilidades, sem nos esquecermos de nossas debilidades, até para que não nos tornemos arrogantes e orgulhosos. O sábios são formados à partir da consciência de si mesmos. Por isso, enquanto conscientes da instável realidade humana, eles caem, erram, dão mancadas absurdas, porém, não têm vergonha em recomeçar, não colocam sobre si as cadeias da perfeição, permitem-se à liberdade para aprender com as quedas e, através delas, medirem o próximo passo. Contudo, se enquanto pais, professores, profissionais, líderes, pastores e outros líderes religiosos, nós insistirmos em colocar as cadeias da perfeição sobre as pessoas, com certeza, além de contribuirmos para o desenvolvimento de uma geração de frustrados, vamos dar "um tiro no próprio pé", pois, por mais que sejamos competentes naquilo que fazemos, nunca, em momento algum, vamos ser perfeitos. Assim, aquilo que impomos sobre os outros, se voltará contra nós mesmos, pois, quando errarmos, a decepção será tanta, que a vergonha se tornará nosso precipício. Pense nisso.
Com carinho e amizade,
Pr. André Luís Pereira
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