Neste universo religioso no qual vivemos, principalmente aqui no Brasil, o ato de sacrificar alguma coisa que o fiel possui se tornou demonstração de uma fé autêntica ou um meio de negociar com Deus. Em algumas "concentrações de fé e milagres", nada sai de graça, tudo tem um preço, seja ele financeiro, patrimonial e, até, pessoal. As pessoas estão sendo educadas a se relacionar com um "deus capitalista", o qual, desde quando estudo a Bíblia, nunca o encontrei nas Escrituras. Na verdade, até encontrei, porém, este "deus capitalista" era um produto de algumas religiões ou, então, produto de determinados líderes religiosos que diziam servir ao "Deus Criador", porém, na prática, serviam a si próprios. Mas quando falamos do Deus da Bíblia, revelado em sua páginas no Antigo e Novo Testamentos, fica claro que Ele não requer sacrifícios para abençoar a quem quer que seja. Na verdade, no Antigo Testamento, os sacrifícios eram rituais para expiação dos pecados do povo, e todos estes sacrifícios preanunciavam o sacrifício perfeito e definitivo que o próprio Deus faria acerca de si mesmo: o Cristo. No Novo Testamento, quando Deus se encarna na pessoa do Cristo, além de anunciar a redenção pela fé, demonstra toda sua indignação com os sacrifícios oferecidos no templo. Sim, sua indignação se dá porque muito aquilo que era feito no templo tinha como motivação a exploração espiritual, emocional e financeira dos fiéis. Por isso, num certo dia, Jesus entra no templo e, irado, joga as mesas dos mercadores no chão e os expulsam para fora. Assim, Jesus passa a anunciar aos seus ouvintes que os sacrifícios já não tinham mais sentido em si mesmos, visto que os homens já não entendiam mais o seu significado e, por isso, estavam, na verdade, barganhando com Deus através deles. Então, em sua mensagem, Jesus aponta para o sacrifício perfeito, ou seja, o sacrifício de si mesmo. Assim, no tempo propício, Jesus entrega a sua vida na cruz como o único, último e suficiente sacrifício a Deus em favor dos homens, liberando-os da entrega ou troca do que quer que fosse para que pudessem ser perdoados de seus pecados ou serem abençoados por Deus. Na cruz, quando Jesus dá o brado da consumação: "Está consumado!", além de cumprir toda a Lei de Deus em nosso lugar, Ele também nos liberta de todos os ritos e rituais da Lei. À partir da cruz, e lá repousa o sentido da fé, nenhum homem precisa de quem quer que seja para se achegar a Deus. A cruz põe fim no trabalho intercessor do sacerdote, o qual oferecia os sacrifícios dos pecadores para que estes fossem perdoados, assim, a partir da cruz, cada homem e mulher se tornam sacerdotes de si mesmos, podem, então, confessar os seus pecados, expor o sofrimento da alma, mostrar suas limitações e dificuldades de mudanças diretamente para Deus, sem qualquer necessidade de campanhas, novenas, oferendas ou qualquer outro tipo de "sacrifício". A cruz inutiliza as penitências, visto que Cristo foi penitenciado em nosso lugar e de maneira definitiva. A cruz tira o sentido das peregrinações: à cavalo, à pé, de carro, de joelhos, ou seja lá como for, visto que Jesus, através da sua morte, reconectou-nos ao Pai, ligando-o diretamente a nós. A cruz nos diz que Ele já não está na Igreja tal, nem com o líder religioso fulano de tal. A cruz diz que Jesus está EM nós, assim, Jesus está aonde quer que viermos estar: no nosso lar, na nossa comunidade religiosa, e num "happy hour" celebrando com os amigos. E, por causa da cruz, Deus, então, ouve as nossas orações e sem a necessidade da intervenção de quem quer que seja. E Deus nos ouve não porque tenhamos mais fé ou menos fé do que determinada pessoa, Deus nos ouve por causa da Cruz, por causa do Cristo que, através do sacrifício definitivo de si mesmo, abriu também, definitivamente, o canal de comunicação e relacionamento com o Pai. Assim, sem a necessidade de qualquer sacrifício ou intercessor, Ele nos ouve aonde quer que estejamos. Ele nos ouve quando estamos firmes na caminhada da fé, e nos ouve quando estamos desanimados de tal caminhada, e, até quando estamos incrédulos de que Ele realmente possa nos ajudar. Por isso, exercite o seu relacionamento com Deus. Ele está próximo, aliás, em você, portanto, curta essa íntima amizade.
Com carinho e fé,
Pr. André Luís Pereira
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